tudo que eu quero é dizer que não quero tudo. poesia, azia, o sonrisal derretendo como um poema belo de leminski. séquiço sexo sacro sagrado. grau. graal. a taça de beber o saber, e saber o sabor do saber. eu quero ficar velho e depois morrer, e nada de antes.
28 fevereiro, 2009
26 fevereiro, 2009
Não existe sentido. Então, procurar é perda de tempo. Sair é cheirar o cheiro de outro asfalto. Olhar outras fotos. Sonhar com outra lua em cima da serra. Uma europa no papo brabo do vizinho de mesa. Não consigo aprender outra língua. Não consigo nem falar direito a minha. As fábulas... o indigente geme na porta corrediça da super mega loja de eletrodomésticos. Pede silêncio. Diz que quer morrer. A polícia chega. Agora ele consegue.
25 fevereiro, 2009
Na televisão um sábio senhor fala da vida dele. Fala que gosta de champagne. Que gosta de ler os romancistas alemães. Que o cinema iraniano tem charme. Que não gosta de acordar antes das dez da manhã. Que carros japoneses não tem design como os americanos. Que as roupas legais de usar são as italianas. Que acha um exagero as notícias de violência. Procuro as letras embaixo do vídeo. A tradução. Não há letras. Ele fala minha língua. Mas, sinceramente, eu não sei de que porra de país ele ta falando.
22 fevereiro, 2009
Os sinos não tocam no lugar onde se espera que toquem. Ódio guardado em caixas de vidro translúcidos. Morte indolor é a meta. A cidadela apodrecendo desde o alicerce. A família aprisionada em frente a uma tela de dezessete polegadas. Postais do camboja onde um menino se finge de morto e rói os cotovelos como se fome fosse. Na casa da esquina um copeiro de roupa estranha. No meio da rua a lama da última chuva. Até os não sofisticados suicidam-se aos poucos com pílulas de felicidade temporã. Deus, em sua suprema bondade, deve estar fazendo alguns ajustes no tal do paraíso.
21 fevereiro, 2009
18 fevereiro, 2009
Doroteu não aperta campainhas. Diz que não gosta. Diz que tem medo. Que alguém pode ter deixado um fio descascado de propósito. Diz que não lê um livro se encontrar com ele aberto. Diz que não bebe água se o copo encher sem que ele veja. Diz que não ri se não escutar a história inteira. Diz que o teto é frágil. Que a escada não dá em um corredor. Diz que não tem plano de vôo. Diz que conhece uma velha, mas nem sabe direito se ela ta viva. Diz que não sabe se vem. Diz que não escuta rádio. Diz que um dia fizeram uma sangria no seu peito. E que o sangue caindo, matou ele pelo meio. Que nunca mais olhou em um espelho depois disso. Não acredita que ela venha, não acredita que exista essa palavra revelia. Que come um desejo. Que o desejo é uma palavra boa de dizer, mesmo sozinho. Não acredita no relógio. Não sabe se o sol é de verdade. Doroteu diz que detesta documentos. Que não sabe de verdade se nasceu as quatro da tarde. Diz que não sabe se vem. Se ela vem. Diz que não passa recibo. Nem a pau.
13 fevereiro, 2009
O que não muda? Meu pau indo e vindo dentro da boceta dela. Dentro de qualquer ela. Penso: pensar em futuro é utopia. O mundo até pode estar acabando. Mas continuo achando um grande barato regar minhas plantas, olhar meu beija flor passear no quintal. Sei não do ano que vem. Sei não da semana que vem. Sei não de amanhã. Sei da cerveja gelada que molha minha boca enquanto sonho. Sei do som da guitarra que toca só no meu ouvido da memória. Sei do riso da mulher que amo, que amei um dia, que amarei um dia, ou não. Sei que saberei do gosto do seu gozo em minha boca. Quando acordo sou o cara que olha, e se olhar direito, vejo. Ou não. ou nunca verei, ou quem sabe – só quem sabe - sou um colecionador de detalhes que mudam. Não mudando.
12 fevereiro, 2009
11 fevereiro, 2009
Pego a felicidade pelas orelhas e grito meia dúzia de meias verdades pra ela. Falo pra ela de disciplina e ela me vomita anfetaminas coloridas. Falo pra ela de violência e ela ri com seus dentes de flores de plástico. Mostro pra ela um capítulo de novela e ela me mostra propaganda de vibradores néon. Chuto sua canela e digo que ela não existe. Ela me mostra fotografias de risos banguelas no sudão. Digo que não acredito. Ela passa a mão no meu pau, me chama de burro, diz que se eu não fosse tão ranzinza, me pagaria um boquete. Vejo ela pegando o ônibus, tomara que um terrorista católico jogue uma bíblia bomba cheio de salmos nojentos dentro do ônibus.
10 fevereiro, 2009
Som pra fazer distúrbio. Grito assim. Falando alto assim. O rio marrom e triste. Medo de molhar os pés. A imagem do espelho não diz que possa estar e ser feliz. Cadê maria? Escondida na pensão, chorando, sem fazer direito o que tinha feito. Procura uma faca. Um comprimido. Acha o controle remoto. Muda o canal. Muda de vida.
09 fevereiro, 2009
Olho a nuvem chegando com o vento. Trazendo coisa que nem sei o que. Chove o quê hoje? Zeferino boca mole pegou um quarto de um ácido e foi tomar banho. A água caindo e ele imaginando: - essa bosta dá nada. Pedaço de papel sem gosto e sem barato. Na dúvida comeu outro pedaço. O bolo fermentou na cabeça. Velas coloridas. Parabéns pra você um caralho. Uma flauta transversal vomitando duzentas e trinta sons por segundo. Trem do futuro seguindo viagem na estação do passado.
08 fevereiro, 2009
O vale do nada tem isso: um nada cheio de abutres. Divinéia bebia goles de uma bebida esverdeada e me contava do vale do nada. Perguntei dos abutres. Ela me dise que não importavam. Eram só abutres. Me contou que um dia, ela não lembra que dia, entrou em um ônibus e foi pra uma cidade no sopé de uma serra esverdeada. Me contou que percebeu as mãos. Dela. Das pessoas. Que passava horas intermináveis olhando suas mãos. Me disse, assim como quem diz nada, que quando o artesão joão fez a primeira fêmea, ele começou pelas mãos. Disse a ela que seria uma escultura impraticável. Ela disse que impraticável era bater uma punheta com os cílios.
07 fevereiro, 2009
Não quero saber seu nome. Não quero saber de que lado da cidade você se esconde com tuas culpas pequeninas. Daqui te vigio voyeur. E isso não me traz culpa ou prazer. Você finge que nem sabe; mas olha pros meus cabelos com olhos de tesoura e ri, mastigando seu chiclete de sabor nenhum. Você nem é tão esperta, mas não vou te dar o mapa do campo minado. Rio também com dentes de granito e sinais da intempérie temporal: cáries e nicotina. Como? Não! Eu não te amo como me amo. Como já te disse, você não é tão esperta.
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