06 setembro, 2009



Matriuska de Sidney rocha
Ou ainda: lupeu não sabe escrever resenhas



Vamos ao que interessa: você bem que gosta de uma boneca, eu sei, é verdade. Na boa porra! Sem mentiras! Você bem que viaja na maionese quando vê uma inflável simpática. Pois muito bem, é de bonecas que estou falando sim. Das bonecas escrotinhas de Sidney Rocha, também chamadas de “matriuskas”. Sabe o que é uma matriuska? Sabe não? São aquelas bonecas russas que enfeitavam as estantes das menininhas comunistas que comiam criancinhas. As de Sydney Rocha também comem. De tudo um pouco. Marisa, a primeira, faz um boquete por dez conto. Mas você tem que entender que o sol é foda, e que cega e seca: quem vê e quem lê. Sidney tem o encantamento do estranhamento. De uma leitura que incomoda, porque real, porque parece que eu vi, porque parece que foi comigo, porque parece que a Marisa do conto ta vindo ali, de lá, de sei lá onde, com medo do sol. Que porra de literatura é essa, de Sidney Rocha, que me faz querer interferir no que leio? Fico assim: indignadoencantado. Mas no fundo eu sei, ele faz isso de propósito. A segunda boneca tem um nome que pode ser separado. Cam. Mila. Duas. Dois espíritos. Corpo nenhum. Coisa bonita de dentes brancos sem gozar. Soprando. Como um poema. Que é o que se flagra nessa porra que ele chama de conto. Conto um caralho. Deve ser um prosoema. Um contoema. Um milaema. Um dilema que Sidney coloca assim, na mesa, pra você, desavisado, pegar ligeiro e comer quente. Doeu? Leia de novo, espere esfriar. A matriuska que dá nome ao livro não tem nome. Por isso a nomeio: “semnome”, mas ela tem uma bolsa. Dessas bolsas, que mesmo pequenas, carregam a vida de uma mulher. E delimita o seu personagem. Todo escritor é escroto. Sidney não foge a regra, antes a corrobora. Ele é o lexotan que a matriuska jura que não toma. Depois ele vem assim, com outra boneca de fala arrevezada e nordestina. E severinamente diz que pariu a morte. É forte. E deus não tem nada a ver com isso. Pode até apostar. Mastruz sim. Com veneno. E sem água. Pra dar sede. E nada vem de graça, e logo surge um camburão pegando a zinha, matriuska também, que descobre os poderes de trepar apanhando. Dói. Dá nojo. Dá raiva dos filhos da puta. Mas é como te disse antes: o cara que escreve quer mesmo é isso – assuma ou não – que quem lê se incomode quando lê. Que levante a bunda da cadeira e saia pra fumar um cigarro. E ficar na dúvida se leu ou se viu na televisão. Se leu ou foi que contaram de manhã, no balcão de um barzinho suburbano. Foi? Estupraram? Comeram? Foi bom? Puta que pariu! E do Nestor, você soube? Como assim, qual Nestor? Nestor porra! O comedor. Que um dia, teve que escutar o que queria e o que não queria. Mas, de certa forma, se vingou da matriuska: ela nunca vai saber até que parte ele ouviu. Daí, pause, que ela entrou na meno pause. E eu, que não sabia picas de como era entrar em pause, agora sei. Que Sidney disse. É soprar pra dentro. É virar fumaça. Sem virar. Dá pra recitar. Em oito vozes dissonantes. Poema pop pause em dó nenhum. E Manassés tem mais é que escutar uma mentira ou duas. Quem é Manasses? Leia. Senão, fodeu. Que mais eu não conto. Depois da pause, passe no supermercado e compre um absorvente para a próxima leitura. Nada disso de comprar qualquer absorvente meu camarada, ou minha camarada. Compre um carefree para sua matriuska que gosta de números e referências. De quem ele ta falando finalmente? Da minha irmã? Da irmã dele? Da puta esquisitinha que mora no oitavo andar? Sidney é foda. É um dissecador. Um desses caras que nasceram com facas de açougueiro em lugar de dedos. Mas isso é bom porra. Traz sangue pra escrita. Sangue de mênstruo. Por isso de vida. Por isso de ler. Por isso de pegar o livro como se coisa fosse. Coisa que se mexe na mão. Como um desses pivetes recém nascidos. Que a gente quer largar no chão. Pra passar a aflição sabe? Sabe é nada. Se soubesse, saberia de esther, de nome bíblico, de dores indizíveis, e que sabe deus com que trepadas esotéricas, conseguiu parir monstros com nome e sobrenome. Saberia também, caso soubesse, dos mistérios que é morrer de causa gafanhão. Falando nisso de morte, uma das matriuskas de Sidney tem acesso direito a deus. E pede dias de saldo pra resolver pequenas coisinhas. Miudezas que cada um, se soubesse direito o que tava fazendo iria logo resolvendo. Até porque as vezes, deus ta de mau humor é pode romper o trato. Pode em vez de dar mais um dia, ou dois, ou dez, te tirar uns quinze. Por ócio talvez, por tédio quem sabe. Então, se é o caso, comece agora a ler o livro. A pagar a conta. A devolver a parada que você pediu emprestado. Quem sabe deus não ta contigo na mira? De bonecas barbie é difícil falar. Dá uma coisa na garganta. Um nó. É meio sade. Com delicadeza. É meio nelson rodrigues, pela cara de notícias populares. É todo Sidney. Assombrando os pensamentos de pais zelosos. De filhas gostosinhas. De bonequinhas cheias de pecado. De pais que queimarão para todo o sempre no inferno de sonhos que não precisam acordar. Odeio Sidney. Odeio principalmente porque não conheço jane. Porque não a vi dançando no poste do motel. Porque não pude me apresentar a ela: prazer querida, meu nome é tarzan. Agora, de uma coisa qualquer um que leia o livro de Sidney não vai poder escapar: da página 63. da página 63. 63. 63. ele saiu? Ele? Saiu? E no tempo da onça? Guadalupe fazia poeira e filhos que não ensinavam ela a ler a desgraça das placas. Gosto de guadalupe. Bateria em guadalupe. Comeria guadalupe. Mas, se sobrasse tempo, ensinaria ela a ler. Guadalupe, lendo, leria wwwoman. Fumaria um baseado feito de aspargos coloridos para entender a ficção. Pra poder entender a tristeza de diana. Fiquei pensando: seria palmer o sobrenome de diana? Seria a deusa? Uma vagaba drogada. Diana. Simplesmente. Até porque a história dela não é simples. Há que se prestar atenção aos pontos. As vírgulas. A geografia. A diana. Linda. Linda e filha da puta. Tão filha da puta quanto a matriuska cristiane. Que queria o mar de cada viagem. Que queria o mar de cada viajante. Que engolia cada viagem de cada viajante procurando o sal dos que viajam. Dos que vão. Dos que lêem pelos olhos de Sidney. Daí, pelos olhos de Sidney, vi uma poltrona feminina. Sangrando. Puta da vida. Daí, que pelos olhos de Sidney, me assustei olhando os móveis de minha casa. Os femininos. Cadeiras. Geladeira. Canetas. Será que? Será? Mas não. Os anjos não permitiriam. No fim do livro, começo de tudo, Sidney conta os passos pra matar alguém. E enche de letras uma página que é rua. E enche de letras um semáforo. E enche de vida uma são paulo que pode ser crato. Jerusalém. Juazeiro da bahia. Lá vem a mulher, com uma faca viva na bolsa. Valha-me deus. Escuto a buzina do carro. O beijo. Em preto e branco. De uma foto da guerra. O sangue do vampiro. Em preto e branco. Sydney rocha. Em preto e branco. Preto no branco. Dançando uma ciranda profana com suas matriuskas nuas. Cada uma contando sua história ao mesmo tempo. Como se possível fosse. Possível. É possível. Leia se for capaz.


Serviço:
Matriuska - Contos.
Autor: Sidney Rocha
Iluminuras