10 novembro, 2010

Ela sabia que eu sabia. A comida feita e colocada no prato como se pra um porco servida. Eu sabia que ela sabia. Olhos sempre em direção aos pés, como se fugindo, como se quisesse que o tempo saltasse, entre uma mentira e outra e acabasse logo. Ela sabia que eu sabia. A boceta seca, sem gosto, como uma fonte que tivesse morrido. Eu sabia que ela sabia. Frases pela metade, coisas sem dizer, clichês decorados de filmes de sessão da tarde.  Ela sabia que eu sabia. O deslumbre pela cidade grande, a praia, o desbunde invejoso de quem não sabe o caminho e tem de seguir alguém. Eu sabia que ela sabia. Cada pessoa um degrau. Até que a solidão mais que perfeita a amordace em seu castelo dourado e sem portas de saída. Ela sabia que não sabia. Eu sabia que ela não sabia. Eu não sei. Nunca soube. E vomitei meu amor e bílis em um esgoto mal cheiroso da casa do sem jeito.
Mordo o calendário maia
Começando com as segundas feiras
Tempo de ampulheta bêbada
Caindo pelas tabelas
O tempo se esconde
Na sombra do edifício
Hospício
Solstício bruxo as onze da manhã
Nos olhos de nero
Tocando fogo em amsterdã
Nada claro no discurso:
Ozônio nas alturas
Ozana no puteiro
Incendiando com seu clitóris
Minha coleção de extintores