27 março, 2008

o sonho do menino é só um pesadelo de menino se bobear o menino é só o sonho


Quem é que sabe dos projetos feitos? O dado. Os dados. Seis lados de informações e dados. Onde o projeto de ser feliz? A sementeira de pedra. Sementes lançadas no vento caindo na sétima onda da senhora dona das águas barrentas. Sim. Eu quero sal. Sim. Penso na reza, a mão segurando a outra mão. Com força. Prendendo deus. Segurando um pedido. Que voe. Que voe. Que siga viagem até o primeiro degrau onde deus passeia com seu regador de plástico verde. Um amigo diz que deus só fala e entende hebraico. Deve ser. Deve ser não. Na dúvida traduzo a prece. Mando em bilhete. No pé do santo da igreja matriz. Saio com raiva da humanidade. Gente demais na igreja. Como ele vai ter tempo de atender todo mundo? Gente demais. Tantas igrejas... Porque eles não escolhem outra? Se não atender o meu, vai ser por falta de tempo. Ou vontade. Será que deus tem vontade? Ou é minha a vontade de que agnóstico sendo ele me prove o contrário? Quero um sinal. Quero um milhão de dólares. Quero viver duzentos anos. Comendo o pastel com caldo de cana escuto o rádio: “entender a dor”, é preciso. Entender a dor? Entender a dor... A dor se sente. A dor se supera. Até se transformar na ausência da dor. Que é uma dor mais sutil, mas não menos escrota, não menos letal. O menino que ri do meu passado ri na beira do rio raso. Amigos míopes brincando de já ser gente grande. Olhando o asfalto como novidade, e odiando os intrusos. Nada de poesia. Viver era a regra. Barrigas abertas de sapos tristes. Assassinos meninos no colégio dos padres. Ninguém tinha morrido ainda, até que ciço neguinho inaugurou a escada pro nada. Nada pra temer. O submarino amarelo tocava rock. A mulher bonita ensinava a trepar. E gostar, era coisa muito. Muito simples. Aprendi a crer que crer não era a crença certa. Era ato. E sabendo que a pirâmide de cristal nada era, nada é, nada será, abri os olhos. Envelheci.

25 março, 2008

eladisseeudisseeladisseeudisse


- Então ela me escreveu uma carta com índice... pensei: onde porra a gente vai parar?! Cartas com índice. Códices. Versículos sem versos. Sículos. Séculos de nada emprenhados em meus gametas de cor nenhuma. Amálgama de nada. Supra sumo da raça, espécie homo. Sapiens? Cartas com índice? Eu mandei ela ler sartre.
- eternizar ela disse. Essa noite, segundo ela, ela faria algo diferente. Pelo desejo absoluto do novo. Pela sensação certeira do ineditismo. Podia ser feio, belo, terrível ou bom. Não importa. Segundo ela não importa de verdade. Ela ligou de um telefone público, disse que dançaria com um vampiro, nua, uma valsa ao luar. Mandei ela apagar o baseado. Ligar o rádio no programa de meteorologia. Mas no fundo sabia: ela dançaria nua. Com ou sem valsa. Com ou sem vampiro.
- falei pra ela que a noite era pra um crime perfeito. Um crime bárbaro. Um porre homérico. Helênico. Estratosférico. Falei pra ela que nessa noite, especificamente, até seria bom salvar alguém de um afogamento. O que eu gritei pra ela, é que numa noite escrota dessas, todas as canções são de amor.
- ela me falou que as dez e meia ela sabotará os planos do presidente. Ela disse que impreterivelmente fará um poema antes da meia noite. Perguntei porque não amanhã? Ela disse não. Só essa noite. Pelo gosto do raro. Pelo cheiro moribundo do eterno.
- me conta que faço performances. Que não amo porra nenhuma. Que aliás, nem sei o que significa a escrotidão do amor. Me chama de velho. E ela quer o novo. O novo. Ovo. Ovo.ovo. falei pra ela que to precisando de uma cerveja gelada. Ouvir uma música bem antiga do djavam. Ela me diz que foda-se as músicas do djavam. Ela quer o djavam na cama dela.
- reclamei. Disse que faltava uma hora e trinta pro dia acabar. Disse que queria dormir. Que tinha fumado o último. Ela me falou que depois de ficar triste é bom reler cartas e ouvir milles davis. Para celebrar. Me conta com uma voz de operadora de telemarketing que os últimos minutos do dia são bons para recolher o pensamento que anda solto...
- as meias noites são sempre absolutamente perigosas. Quando recolho os pensamentos, agarrado a uma boa leitura ou a uns quatro travesseiros, uma sensação gostosa me conforta. E o maior conforto é a vida que parece breve, mas que passa devagar e sempre. Te atravessando como uma adaga cega as vezes. Afiada. Afiada. Afiada. Afiado. Afinado. Como um violão sem aura.
- deixar rolar é hiperbólico. É uma designação de conformismo? Alegria? É só um jogo matrix de dizer coisas. De escrever coisas. De deixar um rastro sutil, para os que se aventurarem.

24 março, 2008

acordadormindo

Hoje acordei com a sensação esquisita de que esse dia é ontem. Sei da impossibilidade. Mesmo parecendo, não estou louco. Fico na porta esperando a empregada que demora o mais que pode. Sabia. Ela vai dizer que o filho dela tá doente. Ela diz. Procuro o café, não fiz o café. Não tem café. Dois cigarros caídos no chão. Um sinal? Uma pista? Um ideograma chinês de I Ching sem referências bibliográficas. Ela chega. O filho dela que não está doente. Ela diz: doente, filho, sei sei sei sei sei. Subo na moto e o vento é o mesmo vento de ontem. moto-contínuo. Hoje? Ontem que era hoje? Que era ontem? Que foi? Foi foi foi foi. Nas histórias basta se beliscar. Não. Não vou me beliscar. Não vou beliscar nada. Acordo do transe transido de medo sem saber. Acordo e leio na conta de energia o meu nome. De ontem. Da semana passada. Do vinho morno e bom. Da ressaca dolorida e faminta. Faz sol. Falta sol. Falta chuva na chuva que cai aos borbotões. Uma lagartixa ignora o aguaceiro e arrisca uma cabeça balançante no tronco da mangueira. Seis peixes em silêncio no aquário. De ontem. Do mês passado. Do ano que vem. Eu vi a marca do corpo no outro lado da cama. Quem dormiu? Quem trepou? Quem saiu antes? Porque? Talvez a falta de grana. Talvez a falta de tato. Talvez a falta de tezão. O cheiro. Teve sexo. Teve putaria. Um livro de pernas abertas. Página duzentos e vinte e um. Quem leu durante. Eu? Ela? Ontem? Semana passada? Dois anos depois? Um filme na televisão. Hommer simpsom come a primeira dama dos estados unidos. No jornal bombas caseiras jogadas em cassinos de atlantic city. Na memória galos de briga em quintais cheios de minhoca de santana do cariri. Ontem. Mil novecentos e setenta. Sem dúvida estou dormindo. Com dúvida. Um cheiro acre de cebola. Vômito. Uma mulher que nunca vi se entranhando nas minhas memórias cheias de falhas. Alho. Alho. Caralho.

No olho do cachorro
O mesmo olho malvado de deus
O bar, caindo aos pedaços
Bêbados, náufragos...
Reis e plebeus

Sempre os quatro coringas
Nas mãos de quem
Tem mais poder
Trepadas envenenadas, é quase nada
...vão todos morrer

Correndo sempre, procurando
Qualquer porta de saída
Bêbado sempre
Morrendo de viver demais

No olho do cachorro
O labirinto do bem e do mal
A cidade apodrecendo
Cerveja e sangue
No carnaval

Sempre as quatro faces
Nas quatro facas
Que nos cortam as mãos
Na hora de dar o trôco?
Um gole de merda, um palavrão

17 março, 2008

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me chamo? porra, eu não me chamo. eu chamo os outros. e eles não atendem. não entendem. mandam se foder a primeira rusga, a primeira ruga. detesto pregos, prefiro comer almôndegas enquanto alguém fala cuspindo a minha cara em busca de uma solução para os seus probleminhas indecifráveis. é verdade, eu não tenho mapas. é verdade, eu não sei a rota. é verdade, deus se mudou do meu condomínio na terça feira passada. pedi a ele vida interna. e que enfiasse a vida eterna no cú lá dele. quero saber do gosto das pessoas. quero saber de que lado da cidade o vento traz a inspiração da canção derradeira. quero sentir o cheiro de erva sendo queimada em louvação ao santo pagão da hora. me chamo legião. urbano. artrópode. tenho um medo novo pra cada dia do ano. e uma velha e caquética coragem, de discurso inflamável e cabelos brancos rebeldes. stono-me. penso nos pentelhos sacrosantos de virginia wolf. penso nos milhões de pequenos buracos em meu discurso. me chamo. chamo. chamo. em chamas amo. e não sei o que significa esse amor. nem o que merda faça com ele.

04 março, 2008

O PASSADO É UMA ROUPA QUE NÃO SE VESTE MAIS


Estive lá
E lá é bem diferente do que foi
O riso não desce mais tão espontâneo
E a pressa
É inimiga do contato
Do encontro, do esbarrão.
Me percebi entrando na festa
Sem ser convidado
Ou, entrando em outra festa, esta sim
Feita por novos personagens
O rock é bom assim como o blues
A farinha desconcentra
Mas o resto da semana em silêncio absoluto
Diz o óbvio em eco:
“o passado é uma roupa que não se veste mais”
Ou como diz o sábio mestre:
- bom é o que está sendo feito agora!