31 maio, 2010



Um só riso. Sorriso de luz, e solidão no sol. Amar, enlouquecer, adoecer. Estourando bombas de um são João imaginário. Desesperados esperando, esperados. Os mortos são calmos, estão calmos. O condenado é o vivo. A paisagem que assusta. O morador intergaláctico. O olho é nunca, o olho é jamais. Um bandolim que rasga a noite silenciosa, como um vinte e um no dado. A catedral em um pesadelo, uma manchete de jornal banhada em sangue árabe, mouro, cearense. O piano dói no coração amassado. Cidades que nunca vi enquadradas, em quadros antigos sem valor. O cinema mudo, a luz não acenderá sozinha. E não há mais medos ou dedos nos interruptores. Você é o quase nada que amarga na boca, como um ácido de tamarindo. Eu como os passos passados pra vomitar o presente. Um Noel ensandecido que odeia chaminés. Na tarde silenciosa o mel do mar é um canto miúdo de um passarinho. Meus dedos são peixes. O rio corre. Eu olho sempre o mesmo rio. Durmo, acordo, e uma mecha de cabelo salta do baú e cai na minha memória estragada. Domingo é sempre dolorido, como uma ferida no joelho. Uma flor me faz falta, na janela do mundo. Um copo de boa bebida que me cure o coração machucado. Rir. Um tanto de risos.

08 maio, 2010

Tenho tempo não
De contar que o passado passou,
que meu relógio quebrou,
que morreu alguém importante,
tenho tempo não
de tudo que possuo
só posso dizer que é meu
este instante

06 maio, 2010


A fera sempre rondará o cheiro dos meus passos trôpegos na madrugada. A fera. A ferocidade intacta da feroz cidade. A fera sabe da minha paixão por telenovelas, dos meus ouvidos moucos, dos meus comprimidos de acabar com a dor num instante. A fera. Quando olho pra cima, lá está: lambendo a pata em cima do muro da casa velha. A fera recita um verso de um cantor que não conheço e a tempestade se instala.