20 outubro, 2007


quero aprender a criar anjos

se voam,

meu coração se dilaçera de medo

se corto-lhes asas,

deixam de ser anjos.


quero aprender a criar meninas

se querem,

tenho medo do seu querer poderoso e volátil

se digo mais não que sim

deixam de ser meninas

transformam-se em miniaturas

de gente grande


anjos e meninas

não vem com manual

16 outubro, 2007

das coisas que encolhem


luana me disse

ontem

que ela não acredita

que seu pé cresceu.

luana me disse

que o sapato

é que encolheu.

luana sabe

luana tem a alma

de um sabiá.

15 outubro, 2007


Tempo de fogo
Armas de querer nenhum nas asas dos olhos chamuscados
O tempo? É um. É um verso. É uni verso.
Madalena comia devagar os ossos de seu velho pai enquanto apresentadoras de programas infantis vomitavam meninos e meninas em rede nacional. Madalena lia as páginas do velho diário de sua mãe enquanto seu papagaio cantava músicas esquisitas de duplas sertanejas. Madalena xingava seu avô nagô enquanto suas irmãs dançavam ciranda ouvindo canções imaginárias.
Tempo de água
Almas torturadas presas em corpos magros molhados pelas lágrimas de mil serafins
O tempo? É aço. Cansaço. Estardalhaço.
Madalena ligava o rádio a televisão o computador tudo ao mesmo tempo agora madalena sabia que não tinha tanto tempo pra tanta informação madalena se masturbava ferozmente recitando cantilenas aprendidas em velhas salas de igreja madalena sonhava um vestido de noiva um bom bom de alecrim um filme do gordo e o magro em tecnicolor uma arma uma arma uma arma arma arma
Pra matar
O tempo.

04 outubro, 2007


Allen ginsberg, eu não sei em que lugar do céu você coça seu umbigo judaico americano. Allen ginsberg, eu não tenho a menor idéia do que você possa dizer ao seu deus poeta, sionista e degenerado. Allen ginsberg, os estados unidos continuam invadindo, torturando e julgando todos os povos da terra, embora eu saiba que você não tem porra nenhuma a ver com isso. Allen ginsberg, eu gostaria de poder te ler um belo poema de Manoel bandeira, mas não sei decorado, e o livro, eu tive que vender pra comprar uma carteira de cigarros. Allen, Allen, eu descobri alguns códigos, mas eles não abrem nem a metade das portas de huxley. Allen, Allen, eu fico daqui do interior da Bahia imaginando se teu deus sionista te recebeu numa boa. Allen, pressupondo que você esteja no céu, onde você escuta seus be-bops ensandecidos? Quando bebo além do limite imagino você, Whitman, normando, chet baker e charlie parker em uma nuvem jam-session. Bêbados, felizes e implorando uma asa, uma nova chance no inferno da terra. Allen, eu imagino que você detestaria esse tempo de agora... os garotos e garotas detestam poesia, escutam coisas que eles chamam de música, que faria qualquer tocador reles corar de vergonha. As drogas? Quase todas sintéticas, ou batizadas, uniformes... eles conseguiram padronizar até a lombra! Allen, se eu tivesse teu endereço, te mandaria o livro do gustavo “o amor é uma coisa feia”. Do caralho man! Ele tem a alma atormentada dos beats, e sabe cozinhar, e escreve com a mão pesada dos velhos. Dos que vaticinam. Dos que viram poster´s na posteridade. Te mandaria também os escritos de gabi. A ciber punk baiana que tem dinamite em seu sangue moreno e belo. E que acha tempo pra ensinar meninos doentes a re-aprenderem a rir. Sabe Allen ginsberg, seu escroto judeu-americano, quando eu tinha 14 anos vi teu livro “uivo” em uma prateleira lá em fortaleza. Uivei contigo de capa a capa. Quando acabei de ler, peguei um caderno, uma caneta, e nunca mais deixei de escrever. Allen, você é um velho judeu morto. Eu sou um velho cariri ainda vivo. E a poesia, meu camarada, NÃO MORRE NUNCA.

03 outubro, 2007


1
Daí que eu pensei: fôda-se filho da puta! Sem saber bem pra quê eu pensei isso, ou de quem. Daí que eu comecei a imaginar que nada do que ta rolando é real. Até porque não seria possível. Saber se alguém desenhou em uma caverna a um milhão de anos não torna minha arte menos ruim, ou a justifica. Sou produto interno do meu interno produto?
- cala a boca seu mentecapto. Minha filha ta ficando assustada!!!
- Enfie sua filha no cá!


2
bunuel come os próprios olhos com maionese
ferlinghetti bebe cerveja escura e olha com olhos de viado os cabelos coloridos das putas
rosebud! Rosebud!
E a alma ensangüentada de Felipe sai se arrastando dentre os ferros retorcidos de sua motocicleta outrora verde agora fumegante e esbelta
Eu amo o batom de tia minie
Eu amo tomar anfetaminas azuis, desobesin, e tudo fica atonal e lento
- cala a boca seu escroto nazista! Meu papagaio quer cometer suicídio!
- Enfia teu papagaio no cu!

3
um sebo. Uma alma. Um livro sujo e belo. Gravuras. Maconha. Cerveja. Amigo que diz cale a boca. Amigo que diz hoje não dá meu velho. Mulher que diz hoje não dá meu velho. Uma música esquisita. Quem toca? Um recado da mãe: tome o remédio. Tome uma atitude. Tome. Tome. Quem canta a porra da música? A ex-mulher querendo a grana. A pensão. As filhas querendo bonecas. A fêmea bela querendo sexo. Quem canta essa merda de música? A maconha sumiu. A cocaína ta batizada. O filme é terrível. CAZUZA! O ESCROTO QUE CANTA A FILHA DA PUTA DA MÚSICA É O VIADINHO DO CAZUZA. AQUELE MARAVILHOSO.
- cala a boca seu orangotango! Você ta assustando minhas samambaias!
- Enfia tuas samambaias no cu.

4
a literatura é arma sem alma é calma sem palma é salmo sem reza é corpo sem vela é sopro sem vento é luz sem descanso é puta sem dentes é trinca na chapa é chopp sem gelo é vinho batizado é sonho decapitado é sonho
açúcar
mascavo.

02 outubro, 2007


tenho que contar coisas

dizer aos outros que vejo coisas que não sei se são

são?

cabral diz que nada é assim tão sério, mas ele fuma pequenos pedaços de rapadura, tenho medo de suas colocações doçes, de seus doçes delírios, de sua língua sem sal ou mal.

tenho que juntar palavras

mas elas são assim

sem sim, sem não,

e dormem tranquilas em redes sem armador algum

as paredes dizem: cale-se e cáliçes de vinho tinto morno apareçem como por encanto.

de cada canto um ponto

de macumba pop baiana

mãe de santo ciber-punk recita salmos da trilogia matrix

eparrê minha mãe escrota e bolorenta

eis-me aqui cristo histérico

hipoteticamente são.

cabral diz: cruz

credo cabral.

cabral diz: fume tarântulas. escreve pro bob dylan.

diz assim: atotô atotô.

presentemente eu posso dizer: ausente. au au au sente. sente o quê meu mano brown.

a verdade me viu hoje,

mas saiu apressada, disse que se demorasse muito o gelo ia derreter.