20 fevereiro, 2008


Beco vivo beco. Chove beco merda mijo gala beco. Beco chove beco chove chove chove. Rala chuva na luva do rio. Rio beco. Sobe marrom e engole pontas de cigarro. Engole fumantes passivos e ativos. Engole viados e putas multicoloridas. Engole beco baba beco bole beco baba. A cortina da retina fecha no beco. Fade in. Beco. Out. outdoor do beco é beco. Antigos espíritos do rio amaldiçoam meninos maconheiros: comerão das latas. Amarão nas latas. Morrerão secos. Secos no beco. Seus corpos adubarão plantações de uva e melão.

19 fevereiro, 2008


O sol apareceu na preguiça. Fico imaginando um cara de um filme, que acordava o sol com um solo de saxofone. Ele deve ter dormido demais. Lembrei do filme, “um trem pras estrelas”, música do cazuza, do caralho. O filme fala de pessoas. Só existem pessoas nos filmes, é bem verdade. Até por conveniência, é mais fácil olhar pras pessoas como números amorfos de uma estatística. Tantos por cento morrem de fome. Tantos por cento são atropelados. Tantos por cento são assassinados pela poderosíssima força policial brasileira. A porcentagem não faz ninguém chorar. Não emociona. Não tem trilha sonora. Um amigo diz que cansou de receber salário mínimo, ele quer agora é o tal salário máximo. Então, vote ni mim! Vou pintar uma camisa com uma frase serena: o lado negro de deus é letal. O lado negro de deus cruza as mãos nas costas, ri e diz vitorioso: lembra? Vingança. Então deus é tão malvado quanto eu. Então eu digo aos meus meninos e meninas: parem de ler, de ouvir, de falar. Nada servirá de bálsamo. Ninguém trazendo em uma mala dourada as respostas certas. Ninguém pra dizer da estrada segura. Ninguém pra acender a luz e falar do batente. O castelo de cartas construído em cima de nada, fica ruindo, rindo de quem tenta colocá-lo de pé. Tudo que guardado, é real, quando exposto, vira quimera. Como tudo. Passo mal com tudo. Por isso meninos e meninas, lhes digo: todos os bomdiaboatardeboanoite são aleatórios. Ninguém deseja nada. Nem bem nem mal. Ninguém tem culpa da taça quebrada. Ninguém precisa ouvir o segredo do totem. Medos não se dividem como lennonsmccartneys. Os restos de um filho cabem no bolso. Em uma propaganda de hollywood. Os restos de um sonho não cabem em lugar nenhum. O lado da faca que passa a margarina no pão de ontem é o mesmo que se enfia costela a dentro, em busca de um rim, de um coração. Uma bomba explode no oitavo andar do coração de um poeta. E seca a mão do poeta. E seca a planta no vaso. A lua cheia ontem... um trem pras estrelas. No meio da rua, um poeta chuta seu coração calcinado e assovia uma canção dos antípodas.
1
Quem procura, acha o que não procura. E a loucura engoma as calças e pede um trocado. Na dúvida, chora. O mundo não tem ouvidos. Dos que restam acreditando em luta, morrem aos quilos, engordando estatísticas amorfas. O rádio toca uma velha canção dos beatles que não alivia em nada a dor de barriga. O que esconde a caixa de respostas? Todo mundo entende a palavra sangue. Todo mundo entende a palavra angústia. Todo mundo espera que a chuva derreta os apartamentos. Abra a guarda. O guarda chuva. Ou silencie esse tambor.
2
Atrás do rio tem uma cidade insone
Molhada pela chuva
Os loucos deixam a luz acesa, como se
Isso mudasse alguma coisa
O diário da guerra não será lido
O telefone não tocará
Fazendo uma surpresa
O desconto do conto
É a pimenta na boca dos incautos
O perfume fede
Nas narinas dos puros
Feche a guarda
O guarda chuva
Toque esse tambor.

18 fevereiro, 2008


Os cadáveres do edifício borba gato continuam a acordar as quatro e meia da manhã mesmo aos domingos. A morte sentada em cima da mini antena parabólica ralha com eles, mas depois deixa pra lá. Os luminares do edifício borba gato conhecem todos os mortos. Mas não os incluem no festim de caroços de manga.

Jesus já morou no borba gato. Foi crucificado ali, onde hoje tem a piscina. Era um garoto bonzinho até os quinze anos. Depois começou a andar com pescadores, deixou crescer o cabelo... dizem até que fumava maconha. A polícia – dizem – barbarizou. Eu não vi. Mas sabe como é né? Se vacilar...

No borba gato mora inês. Apartamento cento e três. Idade indefinida. Algo poraí: beirando os quarenta. Passa meses sem sair de casa. A vizinha jura que ela como insetos. Mas, cda um com sua mania. Agora, que ela tem um revólver, isso tem. Já vi. Há muito tempo. Furando a mão de joca pedreiro. Com um só tiro. Dizem que por amor.

16 fevereiro, 2008

são os caras
os que estão fazendo
uns
especiais


13 fevereiro, 2008


a verdade é verde

cospe palavrões

e não existe

a verdade é fada

foda morta no fôrro de gêsso

a verdade é santa

trepando na manha

sem dar vacilo

a verdade

chupa um caralho na meia madrugada

e perde perdão

e bis

bis

bis.

Fôda-se. Desespere-se. Seu lacre é inviolável? A sereia menina aparece e ri. É riso? É escárnio? Filhas natimortas de pais embriagados. Quer saber da dor? Perder. Não existe consciência, mas existe neon. E só... ele quer morrer aos sessenta. Consumindo a dor. Consumidor filho da mais puta das putas. Comedor de merda adocicada pela mídia. É só. Turcos, maometanos, cariris e baianos: todos uns putos. Todos enfileirados nas prateleiras mais baixas. A lua? Brilha, e nada fica no lugar. Aos quatro ventos: estão loucos. Aos quatro cantos: abram os bares. Aos quatro contos: multipliquem-se. As quatro partes: desintegrem-se. Os retratos sorriem e a cidade grande é engraçada se a gente olhar bem. E a cidade grande é desgraçada se a gente olhar bem. No outdoor: ninguém quer ver tua cara. Então não vá a festa. Deite na cama e escute os lamentos dessa velha vaca escrota que quer um pedaço da sua história. Colabore com alguma coisa então seu filho da puta. Defenda um animal em extinção. Assassine um poeta. Telefone pros seus amigos escrotos de merda e dê uma festa. Não coma frutas. Sirva malícia, anfetaminas e sexo só com um ou dois tabus. O resto? Não importa. Im porta. Porta? Que porta? Quem quer saber se você ta falando a verdade? As verdes verves, as escunas escuras no mar da saliva sempre naufragam no palavrão dito a meia voz. Sempre naufragam. Nenhuma semana tem final.

09 fevereiro, 2008

Sei menos hoje do que ontem. É fato. Estendo raízes em busca de uma água que sempre, está um passo além de onde eu tinha certeza. Causo dor, na medida em que também a sinto. E retalio. As vezes com força desnecessária, as vezes sem força nenhuma. A dor e eu temos uma convivência – se não pacífica – pelo menos honrosa. A dor, que vem abraçada com o espanto e que deixa em minha porta sua filha macilenta e chorona: tristeza. Tristessa beat. Arma de matar retardados e retardatários. Ouço na cabeça um pedaço do doors: “the end”. É verdade, o final será sempre o final. Não existe: “e se eu...”. não existe sansão sem dalila. Nem a dama será dama sem o vagabundo vira-latas que late sorridente como só conseguem os cachorros de roberto carlos. Descubro bem devagar os panos que cobrem os velhos móveis. Dentro de mim uma poeira de muito tempo. Sei dos riscos. Ninguém entra em uma caverna imaginando o que tem dentro. A adrenalina corre nas veias. Célere. E o gosto esquisito de nada sobe em direção a língua. Uma onça? Um dragão? O bicho papão? Eu. Coberto pelos panos. Eu. Coberto pela poeira de erros e acertos. Eu. Me engolindo e vomitando sempre na esperança do novo. Ovo. O novo sem espanto. A ave que sai depois de quebrar cada pedaço desnecessário do escudo protetor. Do medo. Não. Eu não estou velho. São meus olhos que se gastaram olhando para um sol que nunca se deu todo. Não, eu não estou ficando louco. Escuto chuck berry cantando Carol. Uma guitarra primal, veloz e limpa. Sei menos hoje do que sabia ontem. E o que não sei é a mola que me joga. Que não me deixa parado. Rock is rolling.

O rock é minha pedra de toque.

08 fevereiro, 2008



Jeremias jeremoabo olhou no meu olho e vociferou:


Olho de peixe o caralho!


O olho do peixe
Brilha no olho
Do gato
O olho do gato
Brilha no olho
Do cão
O olho do cão
Brilha no olho
De deus
O olho de deus
Queima
As favas e as
Melancias.


Depois, como se mais não fosse preciso enfiou a mão no meu bolso, retirou meu cigarro e meu colírio – acho que fumou os dois – manteve um silêncio opressivo até que, num passe de mágica retirou de dentro de sua mochila-sacola-mala um pequeno gravador antigo. Ligou. A voz de janis saía fanha. Ele me puxou pela camisa e cuspiu as palavras em meus ouvidos:

NO SEXTO ANDAR DO BORBA GATO CHET BAKER COME A BOCETA BLUE DE JANIS JOPLIM NA JANELA A PAISAGEM NON SENSE SUBURBANA DE UMA AMSTERDÃ FEITA NAS COXAS NA CAPELA DO BORBA GATO A PORRA DO PADRE CELEBRA A VITÓRIA DOS COCALEROS DA BOLÍVIA E COME DOÇE DE GOIABA NO SERMÃO ELA FALA DO FLAGRANTE E DO BOM DIA DOS DEDOS DUROS E DAS MENTIRAS DISCRETAS CHET BAKER LIGA O RÁDIO GIRA O DIAL CAETANO VELOSO TREME A VOZ EM UM INGLÊS ABAIANADO CHET CHAMA JANIS.
PULAM OS DOIS.
EM CIMA DA MERDA DO PADRE.

Eu sabia que mais dia menos dia eu seria a vítima da sua verborragia terrorista. Soltou meu braço. Me olhou com seu olho azul de vidro cintilante. Achei que ia embora. Ia. Voltou. Antes de ir de novo, gritou:

Quem toma de um só gole
a saideira
não conhece o tempo.
O caras trepam com cigarros
E fumam mulheres vadias.
Relógios voam do braço
Na mão de trombadinhas alados.
O que disfarça
O copo vazio?
O sorriso vadio?
A vadia no cio?

Seu olho azul de vidro faiscava. Mão de novo dentro de sua malasacolamochila. Uma arma? Um spray. A parede atrás de mim ganha a tatuagem:

ATLÂNTICOS DENTRO DE GARRAFAS PET DE GUARANÁ ÍNDICOS INJETADOS EM VEIAS DE XAVANTES DROGADOS PACÍFICOS VERMELHOS NOS OLHOS DOS MACONHEIROS DA CIDADELA DO PADRE. ELES, SÓ QUEREM VER O MAR.

ARAPIRACA

A lágrima trai
O que o resto do corpo impede
Bi-polaridade de um coração
Ao molho madeira.
Os constantes, dissonantes, nãos
Impedem a jangada da umidade
Ou a bandeira fincada
No teto da torre.
O silêncio lança a seta do barulho
No coração das palavras.
As traças, semióticas, comemoram
O novo nascer da balbúrdia.
O cloro da piscina amarga
No copo de chopp dos doze albatrozes
As folhas de pequi secam
Ao sol mediterrâneo
O guru alisa a barriga do sapo
E cantarola tranqüilo
Uma canção de amor e morte.
Em marte, marcianos comem aspargos
E mascam fumo de arapiraca.

Tudo é o quê?
Um nada, com complexo de grandeza.
Topo, é o quê?
A sombra, nada ameaçadora
Do sopé da montanha.
E tem quem ache que “é”
Quando só “está”
E tem quem ache que está “achado”
E na verdade,
Morde o próprio rabo
Girando em círculos bobos e
Perfeitos.

07 fevereiro, 2008


Saudade de ciência

Qorpo santo sangra
Como se impossível fosse
Qorpo sangra
Santo corpo
Como se louvável fosse
Qorpo divisível, ímpar
Faca suja
Goma laca nas lentes de óculos retro-futuristas
Lacra o qorpo explode qorpo
Tudo mais ou menos
No canal a4
Do diabo a7
No copo de conhaque cor de ferrugem e lama
Na boca do qorpo
Vivo de medo
Morto de merda
Predadores caçam profetas
Nas avenidas mal iluminadas
Que levam recife a olinda
Um caranguejo indefeso
Sangra feito um porco qorpo
Na ante sala do inferno
Um caranguejo aloprado
Com as patas quebradas
Não vai nunca mais ver o manguemar
Nem os estandartes luminosos
Dos maracatus enfezados nas ladeiras
Evoé science
Ave ciência

OS ESTUDIOSOS AFIRMAM QUE O MUNDO VAI ACABAR
Os físicos quânticos atestam a veracidade dos ovos mumificados das centopéias
OS BACKING VOCALS SUSSURRAM CANÇÕES DE AMOR E MEDO DAS ENCHENTES
... enquanto isso os celenterados
REGURGITAM BROTOS DE FEIJÃO
... enquanto isso os suicidas
TELEFONAM PROS SEUS ANALISTAS
... enquanto isso os comedidos
ANALISAM PRIORIDADES EM LISTAS DE SUPERMERCADO
Os estudiosos afirmam que a pobreza é uma piada
OS ARGONAUTAS TEM SEU MANTRA
Mas nem mesmo eles sabem entoá-lo
OS POLÍTICOS HÁBEIS CONSIDERAM
Na última hora uma saída honrosa
... ENQUANTO ISSO OS DRY MARTINIS
Saltam como loucos das bocas dos bêbados
ENQUANTO ISSO OS ESCRAVOS DE JÓ
Terminam de jogar a centésima partida de gamão
ENQUANTO ISSO AS MAMÃES BAIANAS
Colocam pra dormir suas crianças ciber-punk´s
E ATÉ POR ISSO O LOBO MAU
Morre de tristeza, numa gaiola de
ZOOLÓGICO.