08 fevereiro, 2008



Jeremias jeremoabo olhou no meu olho e vociferou:


Olho de peixe o caralho!


O olho do peixe
Brilha no olho
Do gato
O olho do gato
Brilha no olho
Do cão
O olho do cão
Brilha no olho
De deus
O olho de deus
Queima
As favas e as
Melancias.


Depois, como se mais não fosse preciso enfiou a mão no meu bolso, retirou meu cigarro e meu colírio – acho que fumou os dois – manteve um silêncio opressivo até que, num passe de mágica retirou de dentro de sua mochila-sacola-mala um pequeno gravador antigo. Ligou. A voz de janis saía fanha. Ele me puxou pela camisa e cuspiu as palavras em meus ouvidos:

NO SEXTO ANDAR DO BORBA GATO CHET BAKER COME A BOCETA BLUE DE JANIS JOPLIM NA JANELA A PAISAGEM NON SENSE SUBURBANA DE UMA AMSTERDÃ FEITA NAS COXAS NA CAPELA DO BORBA GATO A PORRA DO PADRE CELEBRA A VITÓRIA DOS COCALEROS DA BOLÍVIA E COME DOÇE DE GOIABA NO SERMÃO ELA FALA DO FLAGRANTE E DO BOM DIA DOS DEDOS DUROS E DAS MENTIRAS DISCRETAS CHET BAKER LIGA O RÁDIO GIRA O DIAL CAETANO VELOSO TREME A VOZ EM UM INGLÊS ABAIANADO CHET CHAMA JANIS.
PULAM OS DOIS.
EM CIMA DA MERDA DO PADRE.

Eu sabia que mais dia menos dia eu seria a vítima da sua verborragia terrorista. Soltou meu braço. Me olhou com seu olho azul de vidro cintilante. Achei que ia embora. Ia. Voltou. Antes de ir de novo, gritou:

Quem toma de um só gole
a saideira
não conhece o tempo.
O caras trepam com cigarros
E fumam mulheres vadias.
Relógios voam do braço
Na mão de trombadinhas alados.
O que disfarça
O copo vazio?
O sorriso vadio?
A vadia no cio?

Seu olho azul de vidro faiscava. Mão de novo dentro de sua malasacolamochila. Uma arma? Um spray. A parede atrás de mim ganha a tatuagem:

ATLÂNTICOS DENTRO DE GARRAFAS PET DE GUARANÁ ÍNDICOS INJETADOS EM VEIAS DE XAVANTES DROGADOS PACÍFICOS VERMELHOS NOS OLHOS DOS MACONHEIROS DA CIDADELA DO PADRE. ELES, SÓ QUEREM VER O MAR.

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