22 dezembro, 2008


E que deus me livre dos livros
Que a fascinação não me fascine
Que o belo passe batido
E o comum se dilua
No liquidificador de merda
E ração adocicada.
E que deus me livre da lombra
Da imagem irreal
Do mantra do vento nas árvores

E que deus me livre da preguiça
Do cio e do ócio
Das fotografias de sebastião salgado

E que deus me livre das gargalhadas
Da sensação de chuva no rosto
Da brisa na madrugada

E que deus, em sua suprema bondade
Me livre dos livres
E aumente um elo
Na corrente que prende meu pé.

19 dezembro, 2008


Arranco a pedra
que me machuca o sonho.
Lapido. Não,
depois.
Agora durmo.
Sem pedras.
O outro dia é assustado por drummond de andrade.
Com suas pedras chatas no meio do caminho.
O que sei do sr. Drummond?
Que ele é uma estátua cagada por pombos no rio de janeiro.
Que tinha uma pedra em seu caminho esquisito.
Devia estar sem óculos.

18 dezembro, 2008


Máquinas fotográficas desesperadas
Nada preso
A foto tem que parecer um pedaço de nada preso
Senão, pra quê?

Eu, turista magrelo nessa cidade que nunca quero conhecer
Saia da minha cama sua cidade filha da puta
A apague a luz da rua quando sair
Como assim que é uma outra rua na rua?
Como assim que é uma outra mariposa na luz?
Como assim que o incandescente é fato?
Cidade... cidade
Cidade, preste atenção, a coca cola incendiada
Acaba de voar das mãos do garçom drogado.

13 dezembro, 2008


1
Devagar os tijolos subiam um a um. Se abstraísse, subiam sozinhos. Casas que se montam. Maria pintava seus quadros, de olhos vendados, enquanto os homens, capacetes brancos, montavam um edifício. O que é maria, senão um edifício de tintas, pincéis e capacetes – brancos pensamentos – que a montam? O que é maria enquanto ela monta um sorriso, um corpo, uma alma crepon e pêssego, lazúli alma. E o que é um edifício, senão um montão de marias e seus sonhos coloridos por dom e desejo?
2
E então moça do sobrenome esquisito, eu resolvi dar nome aos bois. O primeiro boi eu vou chamar de eurípedes, e todos os que vierem dele se chamarão “os filhos de eurípedes”. O segundo boi eu chamarei de dumará. Porque? Eu é que sei? Bois, quase que se auto-denominam, nominam, batizam-se pelos olhos. Então, moça do cabelo preto que eu nunca vi, resolvida a questão da nomeclatura bovina, vamos ao sentido exato: saudade. É certo, nunca te vi, e muito provavelmente nunca verei. Logo, essa saudade deve ser a ausência de um ser, que sei, vem de um planeta similar ao meu. Você estuda história, eu, conto histórias. Imagino histórias, que depois de imaginadas não sei se são reais. O que é real? O que sei, penso que sei, é que em minha história meu coração é um anfitrião onipresente. E, estando em todos os lugares, ri do teu riso. E enxuga a lágrima de alguém que chora em qualquer canto. Onipresente coração moça de cor indefinida, ta vendo lá? É ele. Com o espanador na mão. Tirando o pó que não deixa seu sorriso brilhar na madrugada de sábado.
3
Os segredos que ficam de costas, nas esquinas do olho que mira. Mirando o quê? O gole grande está dentro do copo. O copo está dentro do contexto. Um bode amarrado no quintal do pesadelo. A cobra cascavel sibilina saindo de dentro da cartola do mago dos aspargos. Dancem!!! Dancem!!! Manuelina olha pro céu e quer saber, por que quer, onde termina o céu. Manuelina quer saber qual é a cara de deus. Manuelina quer saber quem é que merece um sorriso. Manuelina sabe, que em algum lugar, em um jardim existe uma fruta do conhecimento. Ela viu na bíblia.
4
Aprendo o que cabe. Abro o que posso. Olho o que me é permitido. Acredito nas possibilidades. Sonho com coisas que não podem ser vistas.
5
Não aponte o dedo para o rosto do outro. Do número oito. Do que come em pé suas bolachas recheadas de nada. Calíope da silva morde morfologicamente o livro dos vampiros. Calíope da silva sabe que cada um dos que ela conhece tem um umbigo explosivo, só esperando uma chance. O jogador inverterado encosta-se no balcão. Liga o gravador e conta sua história pra ninguém. Uma bela história de frases curtas e de sentido nenhum. Ele diz: quando era pequeno um cachorro mordeu minha perna. Um dia desenhei uma vaca. Meu pai bebia uma bebida verde. Minha mãe chorava por um olho só. Calíope da silva se apaixona. Tira do cós da sua saia larga uma gilete platinum plus. Corta de orelha a orelha o pescoço do jogador. Ela nunca suportou ficar apaixonada.
6
Daqui debaixo da ponte vejo a lua. Penso nos olhos dos hipopótamos. Realmente não sei porque penso nos olhos dos hipopótamos. Talvez por causa dos seus olhos mesmo, que vi, assim, na discovery chanel. Eles estavam com sono. Abriam bocas enormes. Um deles parecia tim maia. Olho de novo a lua. Penso em tim maia. Nos hipopótamos. Peço a conta. Acho que bebi demais.

08 dezembro, 2008


Tem gente
Que é tão especial
Que parece que o mundo
Sempre dá um jeito de esperar
Por elas:
O show, começa mais tarde
O ônibus, aguarda mais dez minutos
A lua demora
A chuva cai, ralinha

03 dezembro, 2008


No olho dela
Tem uma lagoa
Na lagoa do olho dela
Tem uma gude
Amarronzada, acho eu
Um brilho, sei que tem
De gente que veio
Bem de longe
Em uma nave, talvez.

Chego em casa querendo rua
Paredes que se estreitam, como estreitas são
As petúnias na mão da defunta sem nome do jornal nacional
Entro então, como uma samambaia entra
Vaso adentro, sabendo sim, que o vaso é finito e raso
A única luz, uma luz, a porta da geladeira aberta
Frio, frio demais, frio pra caralho,
Quero um frio desses

Stéreos, ok! Graves e médios, ok!
O menestrel fala de rudeza, diz que tudo é solidão
Pessoas indo e vindo, mastigando ausências
Na trilha um ônibus um carro de mão uma guitarra
O sol de dezembro escondido atrás da água
Água de ausência, abrindo buracos assim, assados

Olho o olho da ave que não sei o nome, andina,
Bebo ayahuasca sem liturgia, só em minha viagem
Vejo o que não determino
Vampiros juntos no presépio de um deus menino abandonado
Miração urbana soft
A fogueira acesa, a fogueira,
Solitária na mágica de transformar toras em cinzas

02 dezembro, 2008


algumas coisas
deveriam sumir antes que as víssemos
algumas coisas
deveriam nunca acontecer
algumas coisas
doem como se nunca mais fossem parar
algumas coisas
não deveriam ser sonhadas
algumas pessoas
deveriam
prestar
atenção
nas placas

01 dezembro, 2008


Algumas coisas só acontecem na madrugada de domingo pra segunda. É uma hora mágica, de começar coisas. De abrir com as duas mãos a máquina do relógio e ordenar: devagar! Ela balançou suas asas na mesa. Sorriu com os olhos. Convida? Convida não. Diz com os olhos: preste atenção! Demora pra chegar? Demora não. Chega na hora certa. Intima. Mostra o olho. Mergulha nos olhos. Depois beija? Beija não. Se deixa beijar. De leve. Gosto bom de mulher. Da fada. De fêmea. Diz um monte com o corpo. E fala pouco. Promete? Promete nada. É assim: cada vez, a primeira vez. De uma hora pra outra diz: ta na hora de dormir. E levitando, árvore que anda, sai da minha vista. Entra em minha vida. Passeia descalça em cima do meu coração. Ê pagu ê.

28 novembro, 2008


Eu tenho dezenas de ânforas
Sabia?
Em cada uma delas
Guardada do tempo,
Um bem querer.
Ali, naqueles papéis,
Guardo poemas de um tempo
Em que o tempo era
A minha preocupação nenhuma.
Naquela gaiola? Tejuro
Nunca morou nenhum passarinho.
De vez em quando remexo tudo,
Mas dói...
E o de vez em quando tem de ser só
De vez em quando.
Em uma das ânforas, dia desses,
Descobri vinte e nove interrogações.
Subi no último andar
E espatifei-as na calçada.
Não agüentava mais me responder:
Porque não fui?
Porque não comi?
Porque não aprendi?
Eu sei das perguntas, barulhentas
O que eu não sei,
É como silenciá-las.

25 novembro, 2008


Uma noite uma mulher me chamou como se chama um homem. Percebi? Senti. Sem que ela falasse, seus olhos queimaram meus braços, pernas. Quis me entender. Ser homem. Tomar atitude. Não entendi nada. Bateu medo. O pau dando sinal de vida dentro da minha velha calça jeans sem cueca. Pensei: ela tem os olhos de sangue. Ela tem os olhos de quem comete um crime. Ela tem os olhos... ela tem os olhos mais bonitos que eu já vi na porra da minha vida. O copo tremia na minha mão. Olhava. E quando ela olhava, firme, certeiro, eu desviava os olhos. Como uma presa indefesa. Devagar. Devagar ela veio. Lenta como um bicho que vai pegar um bicho menor. – eu sei teu nome. Sei onde você mora. Sei o nome da bebida que você tá bebendo. Só não sei quando é que você vai jogar esse cigarro fora pra eu te dar uma chupada na boca. Medo. Puta que pariu. Ela me assustou de verdade. Joguei o cigarro fora. Sem charme. Rápido demais talvez. Ela se encostou em mim. Não, não é verdade. Ela quase entrou em mim com roupa e tudo. Não escutei mais nada. Tinha alguém tocando no palco? Tinha alguém perto? Ela se encostava mais. Imaginei que nunca mais ia descolar dela. Não queria. Não podia. Se ela saísse naquele momento acho que morreria. Tinha um cheiro doçe. Não sei o nome do perfume. Mas ainda hoje, trinta e tantos anos depois, se sinto alguém passando com esse cheiro na rua, paro. É ela. O fantasma dela. Cheguei em casa naquela noite com um gosto que superava a falta de gosto de todo o resto. Namoramos duarante um ano. E todos os dias, era como a primeira vez. Um entrando no outro. Depois do medo da primeira vez, o tezão absoluto. O vício. O gosto bom da boceta dela na minha boca. O riso sem motivo aparente.Os olhos cor de jabuticaba tatuados nas minhas retinas. Saias coloridas. Jeans desbotados. Sandálias de couro amarradas nas pernas. O cheiro... o cheiro... um dia ela veio se despedir. Me comeu como quem sabe que vai passar fome depois. Me mordeu. Me arranhou. Lambeu o sangue. Chorou. No outro dia eu olhei o céu de manhã e rezei: - por favor, eu nunca te peço nada. Não anoiteça! Não anoiteça, pelo amor de deus. Quando a noite chegou eu tomei um porre, e chorei. Como os guerreiros vencidos. Como os países que são invadidos. Como os bichos. Ela me ensinou a ser bicho. E depois, me soltou na cidade. Um menino com a dor de um homem. O cheiro... o cheiro...

18 novembro, 2008

SHOW DE ROCK E LITERATURA NO PÁTIO DO ICBA

A banda de punk rock Pastel De Miolos (no seu primeiro show acústico em 14 anos de trajetória), o poeta Lupeu Lacerda (com poemas de seu primeiro livro "Entre o alho e o sal") e o quarteto de escritores CORTE (Gustavo Rios, Sandro Ornellas, Katherine Funke, Lima Trindade e Wladimir Cazé) participam do projeto Remix-se, no sábado, 22 de novembro, no Pátio do ICBA (Corredor da Vitória). No show, a energia e a sonoridade pesada da Pastel De Miolos se somam à modernidade urbana da literatura baiana contemporânea.



Lupeu Lacerda vem de Juazeiro (BA), onde mora, para seu primeiro recital em Salvador, a convite do CORTE. Ele fará uma leitura improvisada, com acompanhamento musical da Pastel De Miolos, e o CORTE fará intervenções com trechos de seus livros, durante a execução de algumas músicas pela banda. Gustavo Rios lerá seu poema "Ilusões", musicado pela Pastel De Miolos (que fará parte do próximo CD da banda), Lima Trindade lerá um trecho de seu conto "Queen Mary II", Sandro Ornellas lerá seu poema "Serpentário" (ao som de "Riders on the storm", do Doors) e Cazé lerá um fragmento de um texto inédito.



A Pastel De Miolos é um power trio (guitarra, baixo e bateria, respectivamente Allisson Lima, Alex Costa e Wilson Santana) com incontáveis shows na região metropolitana de Salvador, pelo interior, em outros estados e convites para Warped Tour na California (USA). "Tocamos juntos há tantos anos e nunca tínhamos feito um show com violão no lugar da guitarra", diz Alisson, que, no recital de literatura e rock, vai trocar a guitarra por um violão turbinado por efeitos de pedal. "Quando uma banda coloca elementos novos, muda tudo, o processo criativo parece que se abre", repara Alisson. Além de músicas próprias da Pastel De Miolos, a platéia ouvirá clássicos do punk nacional – "Soldados" (Legião Urbana), "Até quando" (Plebe Rude), "Astronautas" (Replicantes),"Que Vergonha" (Olho Seco), “Fênix” (Declinium) – e estrangeiro ("Brand new Cadillac" e "Guns of Brixton", do Clash).



A discotecagem ficará por conta do Dj CHICO CASTRO Jr.



FICHA TÉCNICA:



CORTE: Lupeu Lacerda, Sandro Ornellas e Wladimir Cazé (poetas) Katherine Funke, Lima Trindade e Gustavo Rios (contistas).



Pastel De Miolos: Alex Costa (baixo e voz), Alisson Lima (guitarra e voz) e Wilson Santana (bateria).



Discotecagem: Dj CHICO CASTRO Jr.



No TELÃO: Exibição do DVD “Resistir...” da banda PASTEL DE MIOLOS



SERVIÇO:



Onde: ICBA / Instituto Goethe, Avenida Corredor da Vitória, 1.809, Salvador (BA)

Quando: 22 de novembro, às 18h

Quanto: Entrada franca

Realização: Projeto Remix-se

E-mail: verbo21@gmail.com

Site: www.sequicosacro.blogspot.com

www.myspace.com/pasteldemiolos
www.remix.art.br

11 novembro, 2008


Falo uma língua
Arrevezada
Herdada da rua meio assim
Aprendi a contar usando os dedos
Os medos
Enquanto esperava
Sempre esperei
Daí que aprendi
A língua que pede
Comida
Lombra
Perdão
Arrevezada língua de deus
Na babel
Maior que qualquer escrita

10 novembro, 2008


O domingo é um dia cruel. O sol bota as unhas. A mão inteira no chão. Acho que resolveu foder com tudo. Penso em me fechar no quarto. Me sentir camisa. Me pendurar em um cabide e dormir. Morrer. Tudo dentro do guarda roupa é morto. Opaco. Cheira a naftalina e lembrança. O sol. Vai embora quando? A noite vai chegar quente. Sem alma. Sem vento. Acendo o cigarro número quarenta e quatro. Solto a fumaça número noventa e nove. Na fumaça desenho uma nuvem. Uma chuva. Talvez uma chuva. A fumaça olhada. Dissecada. O cadáver de um vício companheiro da solidão em tecnicolor. Não quero olhar da janela. A janela não existe. A janela existe. E tem um mundo vasto demais visto pela janela. Sei da impossibilidade. Não olho pela janela. De certa forma sou um fugitivo. Um exilado do mundo. Fazendo parte, não faço. Não faço nada. Não nado. O sol. Trégua nenhuma. Nada de mão passando nas costas. Nada de carícias fraudulentas e de mão única. Sem rir. Sem falar. Ordem. Seu lugar. O sol. O termômetro enlouqueceu. Quarenta e cinco. Meu personagem esqueceu a fala. A deixa. O ponto. Meu personagem não sabe que perdeu. Ou o que perdeu. Não estou bem certo do que digo. Não quero ser roupa. Quero ser a colcha jogada de qualquer jeito sobre a cama largada no quarto de qualquer jeito. O sol. Puta que o pariu. O sol. Penso nu. Penso em sair nu. Impraticável. Onde colocar cigarros, celular, carteira, moedas, amuletos, patuás, flagrantes? Falar pouco. Falar nada. Seduzir pelo silêncio. Tornar o silêncio tão denso que incomode os ouvidos. Café. Traz café frio. Gelado. Uma cerveja. Duas. Um monte. Gastar pouca energia. Levantar o braço devagar. Coçar os ovos. Passar o cigarro pra outra mão. Coçar o sovaco. Uma punheta talvez? Impraticável. Calor retado. O sol. O suor pegajoso. Um nojo sereno de mim. Da humanidade. Da água morna. Gritar. Gritar não. Gasta muita energia. Não quero mais palavras. Uma de três letras está me matando. Com mais lentidão. Como se tortura fosse. O sol. Sol. Sol. Puta que pariu.

31 outubro, 2008


O celular me liga no mundo e sei, continuo desligado. detesto isso de ser achado a qualquer hora. Gostava quando os telefones viviam presos. Iguais a cachorros ferozes. Presos em suas cordinhas enroladinhas. A gente via eles lá, nos cantos das paredes, cobertos com pequenas toalhas de crochê, ou as vezes, presos também com pequenos cadeados. Um dia eles se soltaram. Pularam das paredes para os cintos. Depois para as bolsas, os bolsos. Um dia, vão andar sozinhos. Falar entre si. Planejar a destruição de todos os humanos.

26 outubro, 2008


Minha menina jesus que nasce quando quer
Minha menina jesus criadora do mundo e da polícia
Minha menina jesus armada até os dentes como se preciso fosse
Minha menina jesus criada feito bicho entre os bichos
Minha menina jesus fumando maconha meio dia em ponto
Minha menina jesus rindo dos super-homens
Minha menina jesus amaldiçoando os violões de doze cordas
Minha menina jesus de mini-saia vomitando fliperamas
Minha menina jesus apalpando os ovos de qualquer presidente
Minha menina jesus dizendo que não tem nada a ver com isso
Valei-me
Valei-nos
nus

19 outubro, 2008


Procuro aurora. Onde é que encontrarei a louca e bêbada boreal? De cima da bicicleta vi quando o carro veio em alta velocidade. Era lógico que ele não ia conseguir fazer a curva. O carro bateu na guia da calçada. Por um momento, era como se não houvesse gravidade. Ele girou no ar por alguns segundos, e pousou. Caiu. Pedaços misturados de ferro, velocidade e gente. Um ipod amarrado nas orelhas soltas. Sem dono. Pego. Escuto: “esse é o ninho do passarinho, que já nasce voando sem asas”. Casa das máquinas. Cinco e meia da manhã. Boreal. O acidente decreta o feriado. Ontem a noite aurora me disse, com raiva: “não traduza minhas palavras como se fossem canções desses fudidos norte-americanos. Pelo menos uma vez, diga a verdade”. Não ligo. Puxo meu revólver língua e disparo seis mentiras metálicas e super modernas. Boreal retruca: “você sôa falso. Como um tenor castrado. Como a voz dos desenhos animados. Você é um... Mickey. Não. Você é um pateta”. Rio. Gosto de rir quando ela explode seus molotovs arquétipos. Ela pede ao garçom um copo de silêncio e o saboreia com vagar. Eu, gargarejo cacos de anoitecer. Subo na bicicleta. Procuro nos bares que ainda estão abertos. Aurora. Aurora. Lá está ela. Jogando pedaços de sol em minha janela mal lavada. Penso em contar do acidente. Da música. “essa é a semente da nova terra, essa é a bomba que acaba com a guerra”. Não preciso. Ela vai embora quando me vê. Grito: os cegos, coitados! Não sabem das borboletas. Nem sonham arco íris. Boreal...boreal...

17 outubro, 2008


dois
é duas vezes 365
dois
é o começo do três
dois anos:
poesia, personagens,
o subsolo de um romance
amigos
sexo
umas droguitas bacaninhas
um monte de palavras escritas,
e porque não?
um dia de tomar um porre.
séquiço sacro, na rede, há dois anos.
e haja preguiça...

15 outubro, 2008


Eu até poderia
Te dar o troco.
Eu até poderia
Te engolir aos poucos.
Nas meias medidas
Te meço:
Esqueço.