20 junho, 2007


Enfim, regurgitar a dor. Cuspi-la. Pari-la. Saber sem temor da inutilidade da cicatriz, e da sua inevitabilidade. Acordar. Respirar. Olhar a janela e procurar um jardim. Um jardineiro. Uma borboleta. Achar se faz necessário: um pequeno riso, beBê ainda e tentar faze-lo crescer. Até que ele surja imponente – uma gargalhada. Enfim, mergulhar na boceta do tempo. Ser ao mesmo tempo o pau, a boceta e o gozo. Sentir o gozo. Entrar útero a dentro. Invasor e inquilino. Crescer dentro do tempo. Abrir os olhos. Renascer. Ser. De novo um homem.
*
REPETIR: o menino magrelo comendo castanholas maduras no chão da praça. O menino olhando o muro do colégio, tão alto. O menino pescando peixes de nada na curva do rio salgadinho.

CANCELAR: as pequenas dores. Depois transformar as grandes em pequenas. Cancelar todas.

FILMAR: o primeiro riso das filhas. O por do sol no cruzeiro, lá em Santana. O beijo na boca de Ana sexta feira. O amanhecer na sé, em craterdã.
*
a cerveja gelada
no copo
pra esfriar o fogo dos olhos
do ser quase fogo
liquefeito homem
*
“e aí, bati com os olhos no luar, e alua foi bater no mar... e eu fui que fui...ficando”

3 comentários:

Anônimo disse...

NÃO É COM AMOR QUE SE ANIMA O AMIGO

Não é com amor que se anima o amigo.
Eu não lhe desejaria isso. Eu não
quero ver os seus olhos esquecidos
num dia de chuva, perdidos nas eternas rugas
dos que não lembram de nada.

Não é com amor que se anima o amigo.
Eu não quero ver você acabar desse jeito
com o corpo derramado como mármore
ferido na arquitetura dos que fazem
pontes com pássaros coxos.

Não é com amor que se anima o amigo.
Há tantas coisas que você merece mais
do que ter os sentimentos vendidos
como lanternas mágicas para alguém com o corpo
à prova de luz.


Richard Baautigan

mais sobre ele? vai lá na cozinha

Carlos Rafael Dias disse...

Lupa, lupus, lúpulo, lopeu, (a)loprado
todos são nomes, mas a rima possível (apesar de não gostares)
fica por conta do acaso ou do ocaso
(detrás da serra, depois da nascente)
um novo dia amanhecendo
e nós com muita dignidade
brindamos as taças com sonrisal efervescendo.

Gabriela Cruz disse...

e depois eu sou a visceral!


lindo Lupas, LINDO!