08 junho, 2007


Origens

Jerimum era o terceiro filho de escolástica. Era gazo. Branco que doía na vista. E tinha os cílios louros como os de uma boneca. Jerimum era o seu nome de pia. O padre achou insólito, mas batizou. O apelido era boneca de louça, mas o camarada tinha que ter muita coragem pra dizer a alcunha e permanecer por perto.

*
O segundo filho foi batizado com o nome do pai. Outro pai, diga-se de passagem. Nome estranho: Miruca. O padre nunca discutiu os nomes dos filhos de dona escolástica. Primeiro, porque ela lavava suas batinas de graça. E depois, porque ela era a maior doceira de todas aquelas cercanias. Miruca tinha todos os defeitos que um menino pode ter: feio, sujo, remelento, ladrão e mentiroso. Mas, - e isso era o mais importante – era o maior goleiro que a cidade já tinha visto. Um dia saiu com seu irmão jerimum pra nadar no riacho salgadinho. No meio da brincadeira, chamou-o pelo fatídico apelido. Boneca de louça agarrou no pescoço de miruca, e segurou-o embaixo da água até que ele parou de se debater. Mortinho da silva. Dona escolástica quando soube do acontecido mandou buscar o corpo e deu-lhe uma surra tão grande, mas tão grande, que o corpo de miruca rebelou-se com o castigo: ressuscitou. Por isso que o povo fala da fama de milagreira de dona escolástica. E diz-se, sem o padre saber é lógico, que só miruca e Jesus nasceram e morreram e nasceram de novo.
*
Efigênia afuática era a primogênita. Nasceu pra dar. Além disso, não sabia fazer porra nenhuma. Sabia? Sabia nada. Com onze anos de idade ficou prenha. E logo que o menino nasceu ela deu. O menino a uma mulher sem nome que pediu na porta. O priquito, a Benedito, filho de Osvaldo coveiro. E assim foram se sucedendo: trepadas, nascimentos e doações. Até que um dia, sem mais, sem menos, ela parou. De trepar e de dar filhos. Vinte e três filhos doados. E uma menina, a última, que ela judiou o quanto pôde: Sebastiana.

Nenhum comentário: