tudo que eu quero é dizer que não quero tudo. poesia, azia, o sonrisal derretendo como um poema belo de leminski. séquiço sexo sacro sagrado. grau. graal. a taça de beber o saber, e saber o sabor do saber. eu quero ficar velho e depois morrer, e nada de antes.
06 agosto, 2008
JURUBEBA LEÃO DO NORTE
(jurubeba) – por mim nem tinha curva
(leão do norte) – por mim a água seria sempre turva
A CENA SE PASSA DENTRO DE UMA CAIXA DE VIDRO SUSPENSA POR UMA CORRENTE COM UM DOS ELOS QUASE PARTIDO.
(jurubeba) – a água é doce. A água é sempre doce.
(leão do norte) – e a porra da mágoa? A porra da mágoa é flor de lodo. É foto amarelada.
(jurubeba) – cala a boca caralho!!! Foto amarelada, fôda-se com suas fotos amareladas.
UM MICO LEÃO DOURADO SALTA DA SAMAMBAIA DE PLÁSTICO E LIGA O RÁDIO. ONDAS MÉDIAS.
(leão do norte) – preciso pagar carnês. Contas. Boletos. Jogar na loteria.
(jurubeba) – preciso que alguém me diga: - ria!
(leão do norte) por quê?
(jurubeba) porque entre eu e você tem uma noite de ônibus. Duas horas de avião. Um macarrão que detesto. Um livro de Carlos Drumonnd de Andrade que você me disse, um dia, que nunca, por motivos óbvios, vai ler.
(leão do norte) um dia, quando tudo perder a importância empírica. Um dia, quando a televisão ficar o dia todo desligada. Um dia quando todas as contas virarem piadas. Um dia quando todos os carros ficarem estacionados. Aí, e só aí, eu vou olhar uma flor até que ela se abra inteira. Aí, e só aí, eu vou pegar um desses livros com títulos estranhos e lê-lo do começo até o final. Antes disso, pra quê?
QUATRO OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL PARAM EM FRENTE A CAIXA DE VIDRO E COMEÇAM A FAZER UM STRIPTEASE. UM DELES IMITA MADONNA. OS OUTROS SE IMITAM. UM VELHO ÍNDIO ACENDE VELAS DE TAMANHOS DIFERENTES. UMA VELHA ÍNDIA ACENDE UM CACHIMBO. UMA GAROTA ÍNDIA CANTA UMA LITANIA XAMÂNICA MONOCÓRDICA E IDIOTA.
(jurubeba) você quer ser uma mona lisa, só por causa do sorriso né? Você quer morder a orelha, como um vangogh mal humorado e sem graça né? Você quer êxtase, mas não quer terror né?
(leão do norte) eu vou re-encarnar em um urso de pelúcia. Eu vou ser um urso tecno. Eu ainda vou ter os olhos moles feitos os de pagu. Eu vou armar pra você uma arapuca de seringas beat polifônicas.
(jurubeba) a vida ta beleza man. Sem dores esquisitas. O paregórico segurando a cólica e a cerveja iluminando a lua plena. Então, o que dá pra lhe dizer agora é que sua bunda não faz diferença alguma. É que sua alma não vale um vale pro inferno. É que sua falsa cultura tem um ácido que corrói a paciência. Mas a vida ta beleza man. Ta beleza.
A CENA É ILUMINADA POR OITENTA E CINCO LANTERNAS JAPONESAS. DEZOITO MENINOS NÚS ENCENAM A DANÇA DA CHUVA PORTANDO MARTELOS. ELES AVANÇAM PRA CAIXA DE VIDRO. DEZOITO CINEASTAS CONVIDADOS REGISTRAM A CENA.
(leão do norte) aquele menino ta contando estrelas?
(jurubeba) é que ele acabou de assistir E.T. do Spielberg.
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2 comentários:
adorei
encontrei esse post de forma no mínimo surreal, que envolve ancestralidades mal resolvidas. e gostei, gastei, desgastei-me seguindo-o num sonho não acabado. vou ler mais, para entender mais...
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