25 maio, 2008


Dona Leonor odiava Josué. Ela telefonava do orelhão da esquina para sua filha e reclamava todos os dias do barulho dos despertadores e do som desafinado do sax. Ela andava pelo bairro com a cabeça toda enrolada por bob´s coloridos e uma velha máquina fotográfica Leika pendurada no pescoço. Ela olhava para as pessoas estranhas ao bairro e, estando a uma distância segura, começava a fotografar. Ela tinha uma teoria em que – segundo ela – metade da população local era formada por extraterrestres. Por isso ela fotografava tanto, na esperança de flagrá-los em algum momento de distração. Ela mesma revelava as fotos, em um pequeno laboratório caseiro. Depois de reveladas, ela levava as fotos para mostrar a seu Almeidinha – dono do frigorífico – e pedir a opinião dele. As pessoas do bairro morriam de rir de dona Leonor, mas seu Almeidinha gostava dela. E sempre que podia, apontava as pessoas que ele não gostava e vaticinava: - Leonor, aquele é marciano com certeza.

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