31 janeiro, 2009


Eu sempre bebo a dose de veneno que mata.
E não morro.
Eu sempre conto o fatal antes da notícia.
E ela sempre me desmente.
Quando chove derrubo prédios.
Quando seca mato vacas e gente.
Se acender um fósforo conto de bombas.
Mas solto os cadarços.
Mas sei dos sinais do semáforo.
E não adivinho.
Hesito olhando a faca da manteiga.
Hesito olhando a manteiga.
Hesito.
Depois decido beber de novo o veneno.
Dose letal.
E continuo vivo.

Tatobluesalves

O salto do artista é mágico, transformador. Rompendo barreiras, cria novas concepções do real. Dança na arena da impossibilidade, fazendo da vida um reflexo de sua destreza, manipulando, feito um artífice iconoclasta, os valores do existente, imprimindo-lhes variadas leituras, anárquicas e delirantes. Corre riscos, como todos nós, mas arrisca. Não teme o desconhecido por ser desconhecido, teme, por seus limites fronteiriços, o que aí se encontra como verdade única e imutável. Sabe que a mente flui entre espectros. Que por trás do estabelecido há um segredo perturbador de coloridas formas. Nada é único, nada é imutável, a não ser, talvez, o silêncio obtuso de alguns seres cuja existência se pauta na conformidade das regras. Quebrar essas regras seria tirar-lhes o sentido de estarem vivos, desestruturaria o círculo vicioso em que se meteram, relegando-os ao caos do novo que sempre foi repudiado.
Não obstante, somos nós, enquanto seres pensantes e, não raro, participantes de uma realidade cultural, que detemos o dever de interferir, positivamente, no processo de desenvolvimento de uma dinâmica social que, sabemos bem, segue por vias pouco afeitas à racionalidade.
É hora do salto mortal, quando, num arroubo de perícia e loucura consciente, largamos mão de um apoio milenar, lançando corpo no vazio à procura da nossa própria sensatez. Os espectadores terão que se movimentar, é um ato irreversível.
Vamos canalizar a energia para que da observação acrítica do espetáculo, todos partam para a ribalta, a atuar construtivamente na realização da performance maior da vida. Que cada um incite a novas perspectivas de ação, que cada um se conscientize da importância de agir transformadoramente.
Ainda há tempo.
E se na precipitação da busca perdermos contato com a lucidez redentora, haverá apoio seguro, antes da queda fatal, por parte daqueles que responderam nosso apelo a razão.

“o anarquismo é o anjo da guarda de todo prazer” (hanói hanói)

Para: gustavo rios, salatiel, help, rafa, domingos e zé do vale.

20 janeiro, 2009

eis o crato, com suas praças e suas árvores velhas e lindas. que bom rever manel do jardim com toda sua verve, e suas mãos mágicas tirando sons do impossível silêncio do olhar. manel continua o mesmo: uma mistura de blues,rock e rumba e metal, entre outros sons, o que sobra é gente, riso, piada. o mesmo gigante cheio de suingue, juana e coca cola nasal.
2
eis o crato, e a siqueira campos esquisita, deformada. com um monolito preto com quatro relogios de pulso com lente de aumento. já que mudaram tanto a praça, poderiam também ter mudado o nome. seria mais lógico. ou não.
3
eis o crato, notícias dão conta que dihelson já é um funcionário da prefeitura. outra coisa que precisa de mudança de nome: dihelson = McGyver. maestro, compositor, poeta, blogueiro... falando nisso, como é que vai ser? o blog do crato vai ser o órgão de imprensa oficial da prefeitura?
4
eis o crato, ainda minha cidade do coração. onde meus amigos passeiam imunes ao tempo. rindo do tempo. bebendo o tempo. cantando o tempo. comendo o tempo com pequi, e outros tempêros exóticos.

06 janeiro, 2009


A tristeza vem como uma menininha magra. Com a mão estendida. E então, quando a gente percebe, deu um prato de comida, uma roupa usada, um canto no canto da casa. No outro dia ela aparece com uma boneca. Pergunto: como é o nome dessa boneca? – mágoa. O nome da minha boneca é mágoa. E a gente se flagra sem poder mandar embora aquilo: tristeza e mágoa. Em um domingo de sol chega uma garota mais velha, e diz: - é o senhor que deu guarida a tristeza e a mágoa? – sim! Me vejo tolamente respondendo. E ela diz: - vou levá-las comigo ou ficar aqui. – você tem nome? – sim senhor. Meu nome é inveja, e o cara na moto, meu namorado, é o fracasso. Como é que vai ser? Nós todos juntos? Peço licença por um minuto. Penso com meus botões desaparecidos de minhas velhas camisetas hering: - eu agüento? Tristeza, mágoa, inveja, fracasso... estou no décimo lexotan. Continuo lúcido. Onde porra eu guardei o trinta e oito?