tudo que eu quero é dizer que não quero tudo. poesia, azia, o sonrisal derretendo como um poema belo de leminski. séquiço sexo sacro sagrado. grau. graal. a taça de beber o saber, e saber o sabor do saber. eu quero ficar velho e depois morrer, e nada de antes.
31 outubro, 2008
O celular me liga no mundo e sei, continuo desligado. detesto isso de ser achado a qualquer hora. Gostava quando os telefones viviam presos. Iguais a cachorros ferozes. Presos em suas cordinhas enroladinhas. A gente via eles lá, nos cantos das paredes, cobertos com pequenas toalhas de crochê, ou as vezes, presos também com pequenos cadeados. Um dia eles se soltaram. Pularam das paredes para os cintos. Depois para as bolsas, os bolsos. Um dia, vão andar sozinhos. Falar entre si. Planejar a destruição de todos os humanos.
26 outubro, 2008
Minha menina jesus que nasce quando quer
Minha menina jesus criadora do mundo e da polícia
Minha menina jesus armada até os dentes como se preciso fosse
Minha menina jesus criada feito bicho entre os bichos
Minha menina jesus fumando maconha meio dia em ponto
Minha menina jesus rindo dos super-homens
Minha menina jesus amaldiçoando os violões de doze cordas
Minha menina jesus de mini-saia vomitando fliperamas
Minha menina jesus apalpando os ovos de qualquer presidente
Minha menina jesus dizendo que não tem nada a ver com isso
Valei-me
Valei-nos
nus
19 outubro, 2008
Procuro aurora. Onde é que encontrarei a louca e bêbada boreal? De cima da bicicleta vi quando o carro veio em alta velocidade. Era lógico que ele não ia conseguir fazer a curva. O carro bateu na guia da calçada. Por um momento, era como se não houvesse gravidade. Ele girou no ar por alguns segundos, e pousou. Caiu. Pedaços misturados de ferro, velocidade e gente. Um ipod amarrado nas orelhas soltas. Sem dono. Pego. Escuto: “esse é o ninho do passarinho, que já nasce voando sem asas”. Casa das máquinas. Cinco e meia da manhã. Boreal. O acidente decreta o feriado. Ontem a noite aurora me disse, com raiva: “não traduza minhas palavras como se fossem canções desses fudidos norte-americanos. Pelo menos uma vez, diga a verdade”. Não ligo. Puxo meu revólver língua e disparo seis mentiras metálicas e super modernas. Boreal retruca: “você sôa falso. Como um tenor castrado. Como a voz dos desenhos animados. Você é um... Mickey. Não. Você é um pateta”. Rio. Gosto de rir quando ela explode seus molotovs arquétipos. Ela pede ao garçom um copo de silêncio e o saboreia com vagar. Eu, gargarejo cacos de anoitecer. Subo na bicicleta. Procuro nos bares que ainda estão abertos. Aurora. Aurora. Lá está ela. Jogando pedaços de sol em minha janela mal lavada. Penso em contar do acidente. Da música. “essa é a semente da nova terra, essa é a bomba que acaba com a guerra”. Não preciso. Ela vai embora quando me vê. Grito: os cegos, coitados! Não sabem das borboletas. Nem sonham arco íris. Boreal...boreal...
17 outubro, 2008
14 outubro, 2008
12 outubro, 2008
Quando me apaixonei pela primeira vez
Tinha duzentas espinhas no rosto
E um coração que me orientava desorientando
Ela assistia um filme no cine eldorado
Fazia lindas bolas de chicletes
E apertou devagarinho minha mão.
Quando me apaixonei pela segunda vez
Achava que era forte e inquebrável
E meu coração ficava na dele, só na batida
Ela tinha uma camisa sandinista
Granadas palavras, beijos ardentes
E apertava a minha mão como um companheiro
Na terceira vez que me apaixonei
Meus olhos já estavam gastos
Meu coração sussurrava: tenta, tenta porra!
Ela tinha um Hollywood trançado entres os dedos
Me comia com olhos abertos
E sua mão
Nem acenou pra mim na despedida
coneueraminino
Sinhamariquinhacadêminhaboneca conversa maluca de procurar boneca uma hora dessas da manhã. Tisconjuro. Sinhamariquinhacadê. Conversa sem eira nem beira de estrada que a gente não sabe pra onde vai. Sinhámariquinha onde fica o final do arco íris. O final do arco íris todo mundo sabe que fica no começo. Sinhá. Sinhá. Sinhá que música é essa que invade tudo como se água fosse. Aguafôsse? Aguafôsse nem inxiste. Coisa feia fazê pouco dos outros. Coisa feia chama os outros de sinhá. Coisa feia não saber o que se vai fazer todo dia. Coisa feia. Sinhá mariqui. Cala a boca abestado. Respeite as horas do dia. Te os passarinho cala a boca nessa hora. Te o rádio fica mais brando. Vou inté soltar os passarinho tudo. Hoje, se não amanhã. Sinhá. Sinhá. Sinhá. Omi seu minino. Vai pra puta que pariu.
08 outubro, 2008
01 outubro, 2008
Arimatéia fazia santos na rua todos os santos. Na cidade dos santos de Arimatéia tem um bar em cada esquina. E dentro de cada bar tem um demônio com a cara da Sandra de Sá. A música que toca na rua de todos os santos onde Arimatéia fabrica os seus é fora de ritmo. Benditos com pedal de distorção. Ladainhas louvando porcas prenhas. Arimatéia não nota a distorção. Sai na janela e olha o defunto que segue em seu distinto paletó de madeira ornado. O morto é pobre. Onde vão enterrar? A música volta. São Sebastião sai da madeira bruta nas mãos de Arimatéia. Pensa em fazer o padre da serra. Enjoou do padre da serra. Faz um anjo. Bota uma espingarda na mão dele. Vira cangaceiro. Anjo. Arimatéia fica com vontade de ir no bar. Ver o cão Sandra Sá. Olhos coloridos. Desiste. Acende um baseado. Vai ouvir a hora da graça.
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