19 fevereiro, 2008


O sol apareceu na preguiça. Fico imaginando um cara de um filme, que acordava o sol com um solo de saxofone. Ele deve ter dormido demais. Lembrei do filme, “um trem pras estrelas”, música do cazuza, do caralho. O filme fala de pessoas. Só existem pessoas nos filmes, é bem verdade. Até por conveniência, é mais fácil olhar pras pessoas como números amorfos de uma estatística. Tantos por cento morrem de fome. Tantos por cento são atropelados. Tantos por cento são assassinados pela poderosíssima força policial brasileira. A porcentagem não faz ninguém chorar. Não emociona. Não tem trilha sonora. Um amigo diz que cansou de receber salário mínimo, ele quer agora é o tal salário máximo. Então, vote ni mim! Vou pintar uma camisa com uma frase serena: o lado negro de deus é letal. O lado negro de deus cruza as mãos nas costas, ri e diz vitorioso: lembra? Vingança. Então deus é tão malvado quanto eu. Então eu digo aos meus meninos e meninas: parem de ler, de ouvir, de falar. Nada servirá de bálsamo. Ninguém trazendo em uma mala dourada as respostas certas. Ninguém pra dizer da estrada segura. Ninguém pra acender a luz e falar do batente. O castelo de cartas construído em cima de nada, fica ruindo, rindo de quem tenta colocá-lo de pé. Tudo que guardado, é real, quando exposto, vira quimera. Como tudo. Passo mal com tudo. Por isso meninos e meninas, lhes digo: todos os bomdiaboatardeboanoite são aleatórios. Ninguém deseja nada. Nem bem nem mal. Ninguém tem culpa da taça quebrada. Ninguém precisa ouvir o segredo do totem. Medos não se dividem como lennonsmccartneys. Os restos de um filho cabem no bolso. Em uma propaganda de hollywood. Os restos de um sonho não cabem em lugar nenhum. O lado da faca que passa a margarina no pão de ontem é o mesmo que se enfia costela a dentro, em busca de um rim, de um coração. Uma bomba explode no oitavo andar do coração de um poeta. E seca a mão do poeta. E seca a planta no vaso. A lua cheia ontem... um trem pras estrelas. No meio da rua, um poeta chuta seu coração calcinado e assovia uma canção dos antípodas.

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