21 janeiro, 2008


Goronor. Poucas palavras na boca do velho marinheiro. Entre elas, goronor. Olhava em seus olhos tentando lê-los. Uma mulher? Uma baleia? Uma ilha. Seus passos vacilantes o encaminhavam sempre para minha mesa. Nada pedia. O vinho vinha. Ele bebia sem pressa, e enfiava aqueles olhos de azul doentio dentro da minha cabeça. Ezidene! Goronor! Nos primeiros dias perguntava: - o quê? Quem? Onde? Ele não respondia. Procurava no dicionário e as palavras não estavam lá. Perguntava a outras pessoas, e ninguém sabia. Depois de alguns meses, meio que desisti. Uma noite ele chegou e permaneceu de pé ao lado da mesa. O garçom trouxe o vinho, que ele bebeu de uma só vez. Olhou nos meus olhos, e disse, como quem vomita algo grande demais pra passar na garganta. – Éramos trinta e dois homens a bordo do Ezidene. Um dia um barco negro passou do nosso lado, e mesmo sem vento ia numa velocidade assustadora. Eu lavava o convés e li na lateral do barco: Goronor! Letras vermelhas, como sangue, como pedras preciosas e raras. Nenhum homem a vista. O capitão nos ordenou pra seguir o barco, e alguns dias depois o encontramos, fundeado em uma baía de uma ilha sem nome. Quando nos aproximamos... uma imensa boceta saiu de dentro do goronor e pulou em nosso barco. O seu cheiro inebriava a nós todos, e logo estávamos loucos! Excitados! Febris! A oceta saiu comendo, um a um. Não... não oferecemos resistência alguma. Quando ela chegou perto de mim, fechou-se... não me quis. Saiu do ezidene, entrou no goronor e sumiu mar a dentro. Eu... fui rejeitado pela boceta mãe! A porta de entrada do céu, ou do inferno esteve aberta para todos, menos para mim... – eu fiquei olhando ele parado, em pé. E me deu uma vontade da porra de chorar. Afastei a cadeira para que ele sentasse. Empurrou a cadeira. M olhou com raiva. Saiu correndo e gritando: - GORONOR!! GORONOR!!!

Um comentário:

Gabriela. disse...

Sempre uma boceta vil!!!

Saudade dos teus posts, Grande.

Dá beijo nas crias por mim...