Então tá é decidido: saio hoje, encontro com Manoel, combino: nada de bandeira! Decidido isso a gente sai de manhazinha com destino a Pasárgada. Chegando lá de surpresa, sem avisar nem nada, a gente pega o rei de calças na mão, talvez até nu. Se ele cobrar amizades antigas a gente enfia a mão na cara dele. Nada de camas. Nada de mulheres. Nada de reis. Depois a gente volta, correndo, que pode ser que ele, o rei, não entenda nossas propostas libertárias de última hora.
séquiço sacro
tudo que eu quero é dizer que não quero tudo. poesia, azia, o sonrisal derretendo como um poema belo de leminski. séquiço sexo sacro sagrado. grau. graal. a taça de beber o saber, e saber o sabor do saber. eu quero ficar velho e depois morrer, e nada de antes.
06 junho, 2011
19 maio, 2011
11 maio, 2011
nunca é só uma palavra
Nunca come quando diz que é fome
Nunca olha, quando o filme é mudo
Nunca morre, quando a bala é pra outro
A palavra,
nunca é só uma palavra
Nunca arde, quando é sem pimenta
Nunca afoga, quando diz que é choro
Nunca esquece, quando é flor dentro do livro
A palavra,
não morre quando quem fala morre
A palavra só morre
No silêncio do medo
Da primeira e
da última hora
09 maio, 2011
03 maio, 2011
O mar de manuelina
Manuelina quer saber qual é a cara de deus. Manuelina quer saber quem é que merece um sorriso. Manuelina sabe que em algum lugar, em um jardim, existe uma fruta do conhecimento. Ela viu na bíblia. Manuelina olha pro céu e quer saber, por que quer, onde termina o céu. Onde começa ela sabe: na emenda do mar. Ela vinha dentro de um ônibus. Calor da porra. Olhou pela janela, e viu aquilo. Aquela imensidão. Aquela coisa que não tinha nome, nem trazia eco nos sons conhecidos dentro dela. Perguntou. O que é? O homem sentado do seu lado olhou pra ela como se estivesse falando com um alienígena. Como assim, o que é aquilo? É o mar. Mar? É sim. A maior coisa de toda a terra é feita de água garota. Garota, esse é o mar. Mar, essa é a garota que não lhe conhecia. Ela puxou a corda. Desceu. E nunca mais foi embora. Depois de um tempo ela começou a achar que o mar falava com ela. E lhe dizia coisas que ele trazia dentro de sua água. Falava de segredos que ficam de costas, nas esquinas do olho que mira. E ela pensava: mirando o quê? E ela sabia que onde ele encostava dizia coisas. E chorou, pensando que nunca ia ver onde esse mar que ela amava tanto se espreguiçava. Que nunca ia sentir o calor do sol quando acordava e vinha dormir dentro dele. A lágrima desceu até o canto da sua boca. E ela sentiu que o gosto da lágrima dela tinha o mesmo gosto do mar. Aí soube. Ela era parte dele. Por isso não teve medo quando entrou dentro dele. E se entregou absoluta quando ele entrou dentro dela. Ela sabia. Ela era um mar exilado. Só estava voltando pra casa.
(da coletânea "tempo bom")
02 maio, 2011
30 abril, 2011
22 abril, 2011
Os primeiros dias são sempre mais difíceis
Depois de uma semana de oba oba, Adão olha assim meio que enojado para a merda do paraíso. Uma coisa assim, como se fosse uma ressaca. Ele sabe que aquilo é grande demais. Seria muito melhor a porra de um apartamento, um flat em um lugar bacana. Pra quê aquela megalomania? Aquele imensidão do caralho? Sabe que o salário não compensa, que não lhe é dado o devido valor, entre outros problemas menores. O que ele sabe é que não vai mais agüentar muito tempo isso de ficar falando com coisas que não lhe respondem. Se sente ridículo gritando com os bichos ainda sem nome. Acha que vai terminar ficando louco de pedra. Isso de batizar um por um? Coisa por coisa? diz que não tem inspiração que agüente, que eles voltem amanhã, em uma semana ou nunca. Nunca seria uma boa pedida. Olha pra cima, pros lados, pra baixo e grita com deus: - cadê a porra da assessoria? Alguém da área de criação, pelo menos um eletricista? Eva olha pra adão com um tédio sereno. Senta-se na beira de um rio? Riacho? Lagoa? O incompetente do Adão ainda não tinha decidido. E olha pros peixinhos coloridos – todos sem nome também – pensando em esganá-los. Será possível esganar um peixe? Olha pra adão e pergunta: - o personal trainer, chega quando? E o cara da TV a cabo? Adão olha, olha, vê se deus não ta olhando e pensa em nomear um pedaço de pau: porrete, e acertar com ele na cabeça daquela costela com nome de mulher.
14 abril, 2011
07 abril, 2011
O destino não tem tino. Nem tento de gol. Se mastiga na autofagia dos instintos básicos. Nada do que a gente conta é verdade. É a pétala que quer falar da flor como se flor fosse. Ela, ele, elas, eles não conhecem a flor. Depois de passada a faixa do final da corrida se descobre que nada há a ser descoberto. Somos fundos demais em nossos rasos, ou rasos demais em nossos precipícios. Ninguém se salvará. Não há do que. Pode acreditar. A ilusão enfuna as velas e sai navegando em busca de um amor que não faz jus a nada. Não poderia. Por não ser. O anão não grita com os gigantes, não por medo, por não ser escutado. Então é destino. Fica quieto e cumpre. Acerta lá com deus, cobra dele: que porra foi essa meu irmão? O destino. Não esqueça. Fique sendo notado por não notar.
Assinar:
Postagens (Atom)